A Islândia é o berço do metal extremo atual, especialmente Black Metal. Mitologia nórdica, cosmovisões pagãs rendem muitos temas, livros, filmes, séries e música. Tenho que dizer que o Black Metal parece ter absorvido isso de uma forma sedenta, como uma esponja.
Assim, temos o Árstíðir lífsins, banda islandesa na cena desde 2008. E os temas nórdicos e Vikings são contados em sua língua nativa – nada ais justo! A nova joia da banda é Saga á tveim tungum I: Vápn ok viðr conta a história de Óláfr Helgi Haraldsson que governou a Noruega no século XI, é um álbum bastante promissor.
Márcel, longe de ser o vocal da banda é descrito como “Storyteller” nos créditos. Ao longo de Vápn ok viðr isso fica bem evidente e não import se você não é fluente em islandês, a carga emocional, a música, o instrumental e a vocalização trazem muita emoção e sentimento.
Primeiro de tudo, o Black Metal feito pela banda é épico, mas ao mesmo tempo ele cumpre o que o estilo promete. Temos passagem furiosas, rasgadas, atmosféricas, mas que têm aqueles elementos islandeses presentes como ritmo, fluidez e técnica.
“Fornjóts synir ljótir at Haddingja lands lynláðum” chega bem próximo do Black Metal típico que estamos acostumados, aquelas batidas de blasts de bateria, riffs gelados e guitarras cruas e vocal no melhor estilo norueguês.
A sequência com undvǫrpuðir ok áraþytr,” parece que somos transportados para uma montanha do século XI na Escandinávia onde sentamos ao calor aconchegante da fogueira para ouvir as histórias dos nossos ancestrais, dos deuses, seus feitos e de como o homem age a revelia dos mesmos.
Já a faixa “Líf á milli hveinandi bloðkerta,” não é uma música. É uma viagem de proporções épicas, é uma aventura. Um desbravamento. É um álbum de Black metal de 70 minutos! Um álbum fantástico, mas mesmo assim é um álbum de Black Metal de 70 minutos. 70 minutos, com uma musiquinha chamada “Stǫng óð gylld fyr gǫngum ræfi,” de 11 minutos bem no meio dele.
As guitarras engolem o baixo em algumas passagens, o que é uma pena porque quando o baixo aparece ele rouba a cena e coaduna-se com as guitarras. É perfeito. O álbum Vápn ok viðr como um todo pula na sua cara, ele é um álbum indomável e forte. É um álbum islandês.
“Haldi oss frá eldi, eilífr skapa deilir” traz a sensação de perdição, tudo se reduz, o ciclo se encerra, pareço ter tomado um gole das águas da fonte de Urd ao ouvir essa faixa gélida que aos poucos vai se reduzindo ao nada, revivendo-se em seu fim. O barulho desaparece, aos poucos voltamos àquela fogueira – chegamos a sair de lá? Falei que saímos? – e o vento toma o lugar dos instrumentos, surge uma guitarra acústica, então fechamos os olhos. calmaria. vento. Paz. Uma história bem contada, uma história de começo, meio e fim, uma história que deve ser preservada, uma história vivida e um tempo bem gasto.
Nota: 8,5/10