Áudio para deficientes visuais
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Essa uma banda que podemos classificar como lendária e desbravadora, desde 1986 eles vem infectando o mundo com o seu barulho doentio e assim corrompendo milhares de mentes ao redor do mundo. Tive uma conversa muito interessante com o meu amigo Martin Witchskinner onde ele sintetiza muito bem toda a carreira do Blood e quais são seus anseios para o futuro. Boa Leitura!
Saudações, meu bom amigo Martin! Para mim, é muito surreal fazer essa entrevista! BLOOD é uma verdadeira lenda no Mundo Subterrâneo. É impossível que alguém nunca tenha ouvido falar dessa verdadeira entidade sangrenta!
Acho que tudo começou em 86, Como era naquela época? Faça-nos uma breve introdução do início de tudo e qual era o propósito de vocês, com a banda.
Martin Witchskinner – Hell-O Mauro! Esta honra está do meu lado – por um fato interessante, você é um dos poucos maníacos brasileiros que me contatou em todos esses anos. Certa vez me correspondi algumas vezes com o Wagner, mas sempre me pareceu que entrar em contato com brasileiros não é tão fácil. Bem, estou aqui para responder suas perguntas. Em 1986, o Blood foi formado pelo nosso guitarrista Destroyer Eisen – ele era um metalmaníaco na época, e se aprofundando no Heavy Metal e sempre em busca de coisas mais rápidas. Ele, como eu, era tapetrader, mas não nos conhecemos em 1986, ou seja, até 1988, quando entramos em contato através de um amigo em comum. Quando eu entrei no BLOOD eu tinha 18 anos e era apenas um sonho se tornando realidade, cantar no BLOOD, já que eles eram a banda alemã mais rápida que eu conhecia. Quero dizer, rápido no sentido de “Napalm Death”, estilo grindcore. Acho que o objetivo era fazer música que gostamos. Acho que o Blood era realmente mais Grindcore nos primeiros anos, também classificado como Grindcore “oldschool” dos anos 80/anos 90.
Após 7 demo tapes, vocês lançaram o lendário álbum “Impulse To Destroy”, considerado um dos maiores álbuns de grindcore do planeta. Conte-nos sobre a composição, gravação e como foi o contato com a gravadora, Wild Rags.
Martin Witchskinner – Obrigado! Bem, todo o disco consistia principalmente de músicas que já haviam sido lançadas em três demo tapes antes. O Richard C. da Wild Rags Records comprou as demo tapes do Blood para vendê-los em sua loja e achou que Blood tinha potencial para um disco. Então o Richard C. amigavelmente escreveu para mim e Eisen, você sabe cartas à mão, correio tradicional. Tínhamos um contrato original que nos prometia cópias até cópias promocionais e aceitamos. Começou um pouco depois que as coisas não andavam muito bem, nunca recebemos (além de 1) fitas ou camisas que ele fez sem permissão, nunca nem royalties nem nada. Naquela época eu era (jovem e estúpido, sim) muito ansioso para tocar nos EUA e de alguma forma ele sempre escrevia, que sucesso vamos ter, fazer shows deve ser fácil para nós lá e assim por diante… eu acreditei de alguma forma , mas nunca deu certo, ele não conseguiu marcar nenhum show pra gente.
Hoje, devo dizer, foi ótimo ele ter lançado o primeiro disco de Grindcore alemão “Impulse To Destroy” e algumas das coisas que eu disse sobre ele no passado, eu não diria mais. Eu era jovem e acreditei na palavra dele e ele simplesmente não podia fazer o que ele queria… De qualquer forma, muitas outras bandas legais apareceram depois no Wild Rags Records, você os conhece, certo? Eu estava em contato com o Black Winds antes de eles fecharem o contrato com o WRR e achei muito legal sermos companheiros de gravadora.
Ah, bem, as gravações, a coisa toda foi gravada em dois finais de semana, guitarras e bateria ao vivo, só baixo e vocal depois. Foi engraçado, pois o engenheiro de som nunca teve tais crianças lá que faziam esse barulho. Eu realmente acredito que, quando ele mixou a coisa toda, ele tentou dar a cada música um som um pouco diferente, porque ele não conseguia distinguir nada entre as músicas, haha.. Como um grande fã do Carcass, nós somos realmente obcecado com os vocais pitchshifter… você pode ouvir isso aqui e ali.
A formação do BLOOD teve poucas mudanças ao longo de sua história. Qual é o segredo para manter a mesma formação por mais de 30 anos?
Martin Witchskinner – Bem, basicamente Destroyer Eisen, Satanic Taki e Ventilator são dos primórdios, 86/87, entrei em 1988 mas saí do Blood em 1992, voltei por um breve período em 1993 para gravar O AGIOS PETHANE e depois estive fora do Blood por 21 anos..
Um dia Ventilator estava na minha varanda e (basicamente) me perguntou se eu gostava da ideia de cantar em uma banda. Eles tinham Clausi the Corpse cantando desde 1994 em Mental Conflicts, Depraved Goddess, Dysangelium e Gas-Flames-Bones. Então você vê, mesmo depois de tanto tempo as coisas podem desmoronar. Eu realmente não posso te dizer por que uma banda pode durar tanto tempo.
No começo de tudo o som do BLOOD era mais focado no noise/grindcore e com o passar dos anos foi adquirindo mais recursos do DEATH METAL. Por que a mudança?
Martin Witchskinner – Acho que isso aconteceu, porque todo mundo ficou melhor em seu instrumento, mas o que realmente mudou foi que as pessoas no estúdio aprenderam a gravar músicas rápidas e brutais. Como eu disse antes, o cara do estúdio do “ITD”, ele não sabia NADA de Metal… muito menos grindcore, Hardcore… isso não era música popular na época, não em termos mais amplos. Então eu acho que a mudança para mais Death Metal está dentro da produção. O disco “Christbait” soava muito mais Death Metal do que “ITD”, mas até tinha músicas do debut gravadas que soam mais Death Metal. A partir de hoje, eu diria que soamos muito mais Death Metal no disco, mas quando tocamos ao vivo, voltamos às raízes mais triturantes, haha..realmente.. Eu me considero muito mais um fã de Death Metal na verdade…
A banda gravou dezenas de materiais incluindo demos, splits, álbuns,… qual material você destacaria se tivesse que citar apenas um para definir o que é o BLOOD? E porque?
Martin Witchskinner – Mauro, essa é difícil… acho que teria que pegar três, que significa “Impulse To Destroy” como o disco que mostrava como a banda era no passado, depois um disco da época em que Clausi cantava e que foi quando muita gente perdeu o interesse por esse tipo de coisa, talvez “Depraved Goddess” e depois o último disco “Inferno” que é o meu favorito. Mostra que o BLOOD evoluiu para uma esfera que nunca pensei que evoluiria.
Você tinha 2 materiais licenciados por uma gravadora brasileira: “Soul Erazer Recs”. O que você sabe sobre o Brasil? Bandas?
Martin Witchskinner – Aqui vamos nós. Na minha juventude, obviamente, eu tinha tudo isso em tapes como Mutilator, Sarcofago, Sextrash, Ratos de Porão, Vulcano, Sepultura… Depois veio também grindcore legal como o ROT… Já a cena, eu tenho que admitir que eu só conheço um punhado, então a banda mais impressionante que eu ouço há muito tempo, e eu não estou puxando saco aqui, é o WOLFLUST. O que faz do Wolflust uma banda tão brutal é que eles têm músicas boas que são tocadas com habilidade e são simplesmente BRUTAIS e selvagens. Eu fiquei realmente deslumbrado, e estou realmente ansioso para ouvir mais deles… quero dizer “vocês”, haha…
Nós tocamos um show alguns anos atrás com o NERVOCHAOS e eu lembro de ter conversado muito com o Lauro que estava na banda na época. Foi absolutamente interessante ouvir sobre a cena brasileira e os problemas que vocês tem aí para lidar quando se trata de tocar música – mas também ter alguns dos fãs mais obstinados. Acredito que seu sistema postal torna problemático obter registros importados, pois há apenas uma certa quantidade de importações permitidas. Nos pediram alguns anos atrás para tocar no Brasil, mas de alguma forma o organizador não conseguiu. Era impossível porque ele não conseguia locações, promotores e assim por diante. Se não me engano, falava-se de três ou quatro shows por São Paulo, mas isso foi em 2016.
Ouvi dizer que há muito tempo você quase veio tocar no Brasil. Por que isso não aconteceu? Em quais lugares o BLOOD ainda não tocou?
Martin Witchskinner – Ah, você vê, eu acabei de responder isso antes. Eu realmente não posso dizer, antes da pandemia, viajamos muito para vários países, já estivemos no México e no Chile. Fizemos shows incríveis lá e eu agradeço a todos aqueles caras malucos que vieram nos ver tocar.
Atualmente ainda estamos vivemos uma pandemia mundial, fora os shows que não estão acontecendo, o que mudou no seu dia a dia? A banda continua ensaiando e compondo normalmente?
Martin Witchskinner – Para ser sincero, não, não ensaiamos regularmente nos últimos dois anos. O que fizemos, usamos o tempo para compor e gravar algumas músicas no início deste ano (2021). A ideia é lançar essas músicas em um Mini-LP com o NUNSLAUGHTER. Hells Headbangers Rec. vai lançar em vinil nos Estados Unidos e acho que vai ter lançamento em CD aqui na Europa. O Nunslaughter também gravou sua parte, mas parece que as fábricas de prensagem de vinil têm longos cronogramas, então acho que esse álbum verá a luz do dia no início do verão este ano (2022).
Como podemos ver, as letras do BLOOD são muito diversas, cada álbum parece ter um tema específico. Quais são os principais tópicos e quem os escreve?
Martin Witchskinner – Mauro, eu odeio escrever letras, é por isso que eu fiz tão poucas no meu passado, haha.. Quando nós fizemos o disco Inferno, eu queria usar minhas próprias letras. Eu odeio escrever letras, pois preciso de muito tempo para elas, gosto de usar palavras que realmente se encaixem nas “melodias”, além de que devem de alguma forma fazer sentido. Na verdade eu não deixo mais ninguém escrever letras, eu quero cantar o que eu escrevi.
As letras de “Inferno” eram parcialmente satânicas, anticristãs e violêntas. As que eu fiz para o novo disco (The Split…) tentei mostrar o meu desgosto que tenho pela igreja hipócrita cristã conservadora com seu mesmos e velhos problemas de sempre.
A capa do álbum “Blood, Flames, Caps” traz a imagem de um campo de concentração. Conte-nos sobre este álbum e todo o seu contexto, e se a banda já sofreu algum preconceito, por causa desse material.
Martin Witchskinner – Eu não estava na banda quando eles fizeram o álbum. Eu mesmo tive discussões com o resto da banda sobre o que eles pensavam sobre isso. Sinceramente, eu não teria usado, pois não gosto da imagem e as pessoas podem confundir BLOOD com uma banda nazista.
Eisen me disse uma vez, o álbum inteiro é sobre crimes de guerra e crueldades, coisas que os homens fizeram e ainda fazem uns aos outros da maneira mais ruim e maligna. Acho que não houve nenhum problema até agora.
Atualmente vivemos em um mundo moderno e muita gente fala que a mídia física (CD, LPs, Zines…) vai acabar, e que isso só continua vivo por causa dos maníacos das gerações passadas que ainda mantêm a chama viva. O que você acha disso? As plataformas digitais matarão o material físico antigo e bom?
Martin Witchskinner – Na verdade isso pode estar certo até certo ponto, mas eu realmente não conheço nenhum metaleiro jovem que esteja na casa dos vinte anos e colecione discos. Talvez não seja tanto um problema das plataformas digitais, mas porque há tanta música neste mundo, não se pode comprar tudo. Eu lembro que na minha juventude, eu conseguia comprar um disco por mês, no máximo. Isso foi muito especial. Naquela época, eu estava pensando, se eu tivesse dinheiro para comprar 10 discos, eu teria a maior coleção de discos. Foi uma escolha na época, o que vou comprar agora: Bathory “The Return” ou Possessed “Seven Churchs”? Escolhas realmente difíceis… Bem, eu peguei os dois mais tarde, haha.
Hoje, eu realmente não saberia o que comprar. É demais… pelo menos para mim. Mas é claro que espero que o metal e a mídia física sobrevivam pelos próximos 30 anos, pelo menos, enquanto eu estiver vivo, haha..
Depois que a pandemia acabar ou voltar ao normal, quais são os próximos passos do BLOOD? Lançamentos, shows…?
Martin Witchskinner – Sim, como eu disse antes, haverá o NUNSLAUGHTER em Mini-LP e haverá outro disco, que será uma surpresa. Eu não posso falar sobre isso, já que outra banda também está envolvida, mas não vai ficar mais old school de como era e como eu nunca teria sonhado em fazer isso na minha vida! Vou mantê-lo atualizado… agora as questões legais/contratos estão esclarecidos. Fique ligado meu amigo!
Martin, agradeço sua gentileza e consideração em nos conceder esta entrevista. Deixe-nos aqui suas palavras finais para todos os maníacos brasileiros que amam BLOOD!
Martin Witchskinner – Maníacos sul-americanos e leitores da LUCIFER RISING – se você ler isso: Aterrorize seu promotor local para nos trazer, eu quero tocar com o WOLFLUST, a máquina de guerra mais malvada do Brasil, juntos mostraremos ao mundo o novo e velho ódio!!!
Confira também SERPENT SPAWN – esta é minha nova banda que conta com o baterista original do Naked Whipper. Death Metal brutal e esmagador! Estou tocando guitarra e fazendo os vocais, estamos prontos para entrar em estúdio!
Muito obrigado Mauro pela paciência, demorei tanto para responder essa entrevista, me desculpem por isso. Muita saúde para você e o WOLFLUST, e claro, LUCIFER RISING! Seu apoio significa muito!