Querem banda de um homem só? Eu também! Acenda todas as luzes antes de ouvir esses álbuns, vão por mim!
Purity Through Fire tem o orgulho de apresentar o K.F.R, uma banda de um homem só criada em 2013 pelo artista Maxime Taccardi, mais conhecido por suas pinturas feitas com seu próprio sangue e também pela infinidade de capas que ele fez no gênero metal.
K.F.R é, como ele mesmo descreve, uma tradução de suas ilustrações mais sombrias para a forma sonora. Profundamente influenciada pela ideia de Gesamktkunstwerk teorizada por Wagner e posteriormente praticada por artistas e músicos como Schoenberg, Kandinsky, Scriabine, etc., a arte total de Maxime Taccardi começou seu caminho com uma mistura de Dark Ambient maligno e Black Metal em forma de uma navalha cortante.
Centrado tradição das Legiões Negras francesas. Não é por acaso que Meyhnach, do Mütiilation, participou nos álbuns do K.F.R, Anti e Ad Manifestationem Diaboli, e Vordb, do Belketre, participou no álbum Ø.
Anti-religioso em sua essência, K.F.R leva o nome da palavra árabe “Kafir”, que significa descrente e que está inscrito na testa de Dajjal, o anticristo no Islã.
Depois de uma trilogia de álbuns (Anti, Nekro e Ø), Taccardi achava que o projeto permaneceria no escuro, mas percebeu depois de um hiato de dois anos que ele tinha mais a dizer sob essa alcunha. Ad Manifestationem Diaboli e Par le Sang foram lançados no ano passado pela PURITY THROUGH FIRE e marcaram um passo mais sujo para o reino do black metal nauseabundo e cacofônico. Sem pestanejar e desagradáveis, eram literalmente uma ferida aberta, um portal para uma nova era de escuridão.
Agora, PURITY THROUGH FIRE revela dois álbuns do K.F.R para este ano bastardo de 2019: L’Enfer à Fonte e Démonologue, que foram ambos lançados em formato de LP ultra-limitado em 31 de maio.
- PARTE I – Démonologue
Démonologue é uma palavra inventada para descrever alguém que é especialista em demonologia. É também, de acordo com Taccardi, um trocadilho entre Demônio e monólogo – então uma conversa consigo mesmo, mas mais especificamente com os demônios que estão dentro de você.
As faixas do álbum descrevem uma seleção de demônios que estão intimamente ligados ao espírito do K.F.R: Asmodée, Azazel, Abaddon, Baal, Buer, Belzebu e Lúcifer. É parcialmente baseado no dicionário infernal escrito por Jacques Collin de Plancy.
Musicalmente, é provavelmente o mais obscuro opus criado por Taccardi; sintetizadores são na sua maioria ausentes e substituídos por uma parte maior de coros executados pelo músico. Os sete hinos presentes neste álbum devem ser considerados como invocações dos ditos espíritos. Démonologue é um mestiço único de um black metal vicioso e uma atmosfera extremamente escura que não atrairá os amadores do black metal mainstream. O objetivo aqui é repugnar e fazer você se sentir desconfortável: o que o black metal realmente deve fazer.
- PARTE II – L’Enfer à sa Source
L’Enfer à sa Source é uma jornada transcendental ao reino da psique bizarra de Taccardi, um álbum de black metal torturador, sofrido, cheio de uma claustrofobia sem fim. Esse sentimento é reforçado pelo uso de ossos humanos para os tambores, dando à música uma ressonância da morte o tempo todo.
Semanticamente, é um conceito sobre o Inferno como uma entidade física e metafísica, uma projeção mental da mente de Taccardi e o que os outros percebem – a ideia de Inferno ser a encarnação do nada e um retorno ao que precede a existência.
Essa definição ecoa o trabalho de Schopenhauer, Bataille e Sartre: a morte é um retorno a esse estado, não um fim em si mesmo. Talvez seja um novo começo, perpétuo e cíclico, uma espiral infernal: “HELL”, é você. “Talvez você que me condena tem mais medo do que eu que sou condenado.” – Giordano Bruno
As faixas são brutais e cortantes. O inferno é algo seu, pessoal e acessível à sua psique. Esse “olha a morte de frente”, a consideração da morte enquanto fenômeno que afeta diretamente a existência perpassa todo o álbum.
Não há uma negação diante da finitude como Heidegger em “Ser e Tempo”, mas a aceitação do ser-para-a-morte que também é parte da sua obra e da sua construção, um pouco além de dar à morte o sentido da vida,, o álbum canaliza a sua existência para um inferno intransferível e assustadoramente tangível, ainda em vida.
Definitivamente Camus não cabe de intermédio aos filósofos e ao próprio Maxime Taccardi.
Notas:
- Démonologue – 8,5
- L’Enfer à sa Source – 9,0
Maiores Informações:
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