Áudio para deficientes visuais
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Contos, batalhas épicas, bruxaria e grandes nomes do cenário do metal em geral participando deste trabalho, vamos conversar com o Dmitry Luna mentor do Myrkgand, do Brasil para Europa, falando sobre as participações desses ilustres músicos em seus trabalhos e sobre o novo álbum….
Conte como foi a idéia de formar o Myrkgand e suas influências musicais e temáticas?
Dmitry Luna: A idéia veio quando eu quis misturar muitos de meus interesses pessoais. Começando por diferentes vertentes do Heavy Metal que gosto, tentando criar uma mescla entre o Metal Extremo e uma linha mais melódica e folclórica. Eu sempre gostei de temáticas voltadas a lendas, fantasia, batalhas, bruxaria, demônios, mitologia de um modo geral, filosofia… Então decidi falar sobre isso no Myrkgand. Tem umas mensagens ocultas nas letras também, não é simplesmente um conto de fadas demoníaco. Quem parar para ler e interpretar pode conseguir captar esse algo a mais. Quando fui gravar o primeiro disco decidi chamar alguns amigos pra participar, tava me sentindo solitário demais tocando tudo no disco, hahaha. Acabou que ficou fixo esse formato de eu cantando e tocando tudo + convidados especiais.
Sempre considerei minha influência principal o Chuck Schuldiner do Death, dá pra encontrar muitos rastros dele nas coisas que eu crio. Fora que eu tenho uma coleção enorme de material do Death: todos os CDs e LPs, e mais de 30 camisetas diferentes da banda. Fora os materiais do Mantas e Control Denied que tenho. Mas pra resumir e citar algumas outras influências diretas minhas: Bathory, Children of Bodom, Dimmu Borgir, Nargaroth, Satyricon, Blind Guardian, Autopsy, Malefactor, Luxúria de Lillith, Immortal, Arckanum, Mactätus, Illnath, Andre Matos, e por aí vai… Se eu parar pra citar todas não acabo nunca, sempre vai faltar alguma na lista.
Claro que tem muita coisa de fora do Metal que eu gosto também, principalmente música clássica.
O Álbum auto intitulado “Myrkgand”, teve muitas versões em diversos países, qual a versão que mais te chamou a atenção? e por que?
Dmitry Luna: É verdade. No primeiro ano de lançamento esse álbum saiu em vários selos de países diferentes. Japão, Malásia, Brasil, Portugal, Polônia, Rússia, Ucrânia, Cazaquistão, República Tcheca, México… Fiquei muito surpreso e satisfeito de o Myrkgand ter uma repercussão tão forte logo no primeiro disco, apesar de eu tê-lo gravado com muita simplicidade e poucos recursos. Todo o esforço culminou num grandioso resultado e a distribuição foi satisfatória a nível mundial. De todas essas diferentes versões, acho que a que chamou mais a minha atenção foi a do Japão, lançada pelo selo Invasion of Solitude Records do meu amigo Kenta Inoue, que é um cara muito gente boa, honesto e correto. O tal do Japonês é foda! Os caras são de outro planeta, muito organizados e inteligentes. Nesse lançamento, quando a pessoa abre o CD a arte de fundo mostra uns lobos brancos e o CD é vermelho, formando assim a bandeira do Japão. Foi uma idéia minha para deixar o lançamento único e especial. Fora que o disco vem com um Obi que contém informações do álbum em japonês e a ficha técnica dentro do encarte está em japonês também. Todas essas versões alternativas do disco têm diferenças nos encartes, variações de artes, etc. O Digipack lançado na Polônia tem até cores diferentes na capa. Sempre procuro fazer isso pra deixar cada versão com sua marca registrada. Ficha técnica da versão da Malásia ta no idioma local, da República Tcheca também. Eu sempre trato cada lançamento com todo cuidado e carinho.
O segundo álbum “Old Mystical Tales” foi produzido por ROLAND GRAPOW, como chegou até ele para fazer toda produção?
Dmitry Luna: Eu e Roland já somos amigos há uns anos. A gente já vinha conversando sobre isso há um bom tempo e em 2018 acabei indo na casa dele, na Eslováquia, onde ele tem um estúdio. Passei uma semana lá gravando o “Old Mystical Tales” e foi uma experiência única. Roland me ensinou muita coisa, me deu de presente muito conhecimento e experiência que uso até hoje. Na minha adolescência ele foi um ídolo e tenho a sorte de poder tê-lo como um grande amigo hoje em dia. Nos falamos com freqüência e agora estamos bem mais próximos um do outro aqui na Europa.
O Myrkgand é uma banda que sempre conta com participações de grandes nomes do metal mundial, como é trabalhar com membros de bandas como Blind Guardian, Cradle of Filth, Trollfest, Tuatha de Danann, Iron Angel, Vulcano, Pathologic Noise, Malefactor, Masterplan?
Dmitry Luna: Hoje em dia acho tudo bem normal. No início eu ficava muito mais entusiasmado com tudo isso, bem animado e surpreso de tanta gente boa aceitar de bom grado um simples convite para participar de um projeto novo e humilde que é o Myrkgand. É normal sentir isso, eu era bem mais novo, com meus 20 e poucos anos, e do nada me vi fazendo música com vários dos meus ídolos… Mas com o tempo, experiência e o contato diário com esses artistas, a gente vai notando que todo mundo é gente como a gente. Às vezes passo meses sem falar nada de música com essa galera, só compartilhando memes no Whatsapp e falando besteira, jogando conversa fora.
Você acha que existe uma diferença muito grande de uma produção musical nacional e uma estrangeira?
Dmitry Luna: Depende de quem a gente usar como comparação. Se pegarmos um produtor brasileiro bom e compararmos com um produtor gringo meia-boca, o brasileiro claro que vai sair na frente. Mas de uma maneira geral tudo é mais evoluído aqui na Europa, na produção musical não é diferente. Tanto que as maiores bandas do Brasil quase sempre buscam produtores de fora para produzir, mixar e masterizar seus trabalhos. Para o próximo do Myrkgand estou trabalhando junto ao norueguês Øystein Brun, guitarrista do Borknagar, que tem feito um trabalho espetacular. O disco já tá praticamente finalizado.
O Myrkgand esta ativo desde 2012, você tem muita dificuldade em seu trabalho por se tratar de uma “one man band”?
Dmitry Luna: Tudo sempre tem seu lado bom e seu lado ruim. Por um lado é bom tomar decisões sozinho e isso já me ajudou muito. Não tenho outros membros pra dividir opiniões, discutir e discordar. Por outro lado, cai tudo nas minhas costas… cuidar do merchan, loja da banda, lidar com vários donos dos vários selos que lançaram os discos (alguns não tão honestos e amigáveis), cuidar dos contratos de licença, lidar e responder à imprensa, etc… Não tenho colegas de banda pra dividir tarefas e nem custos de seja lá o que eu for fazer, tudo eu que tenho que me lascar… Mas ao mesmo tempo tudo que vem de lucro e pagamentos eu não tenho que dividir com ninguém. Não tem pra onde correr, esse formato que eu escolhi é bom e é difícil ao mesmo tempo, como tudo na vida.
Você é um cara de pouca idade, porém com muita experiência musical tocando no passado em bandas de Heavy Metal até os estilos mais extremos, você carrega essas influências desses estilos do metal para o Myrkgand?
Dmitry Luna: Sim. Como eu já respondi numa pergunta anterior, sempre procuro usar elementos diferentes no Myrkgand. A banda não é puramente Death Metal, nem puramente Black Metal, nem só Folk/Pagan… é simplesmente uma mistura de Death, Black, Folk, Power, Heavy Tradicional, umas pitadas de Progressivo… tem muita coisa. Elementos de música clássica, violinos, violoncelos, orquestrações em geral. Tem vocal limpo misturado com gutural em algumas músicas. Quando criei a banda eu não queria fazer mais do mesmo, queria tentar fazer algo mais
original e acabou dando certo. Tem muita banda por aí que é cópia da cópia, bandas que são iguais umas às outras e que só fazem o “feijão com arroz” de sempre. Eu não queria entrar nesse bolo e sempre fui muito exigente, principalmente comigo mesmo.
Como foi a produção do videoclipe oficial de “Trolls Filthy Madfeast”?
Dmitry Luna: A produção desse clipe foi bastante simples e feita de maneira econômica, com poucos recursos. Simplesmente chamei amigos e amigas que tenho em Oslo e gravamos lá, em dias diferentes, quando eu tava passando pela Noruega. Três dos caras do TROLLFEST participaram do clipe, sendo que dois deles gravaram a música comigo em estúdio anteriormente. Um amigo meu chamado John, da Gray Gull Productions, foi camera-man e diretor ao mesmo tempo e as idéias das cenas vieram principalmente de mim e do Trollmannen, que é vocalista e fundador do Trollfest. O clipe é totalmente voltado à comédia e ao humor, que é a especialidade do Trollfest. Esta é uma música bem especial, pois eu a escrevi quando tinha uns 14 pra 15 anos, antes mesmo de eu ter criado o Myrkgand, e a compus como homenagem ao Trollfest, me baseando nas canções deles da época. Guardei uma Demo dela por muito tempo até gravar em definitivo somente em meu segundo álbum. Dei sorte de na altura eu já conhecer os caras, aí eu contei toda a história e mostrei a música a eles, que fizeram questão de gravar a faixa comigo.
O que você ouve atualmente dentro de nosso vasto cenário underground? tem alguma “one man band” que você destacaria?
Dmitry Luna: Eu continuo ouvindo muito Death, Chuck é o rei dos riffs. Também amo ouvir umas bandas como Caladan Brood, Summoning, Rainbow… Recentemente descobri uma banda nova americana chamada Stormkeep e gostei muito do primeiro álbum deles, lançado agora em Novembro de 2021. É um Melodic Black Metal simplesmente maravilhoso. Tem uma one-man- band da Australia que eu sempre admirei, que é o Aquilus. O primeiro álbum “Griseus” é absurdo de perfeito, Black Metal com muita influência de Folk e música clássica. Falando de one-man-band a gente tem que sempre citar o Bathory… Arckanum, Vinterriket, Bilskirnir, Isengard, Chur. Tem um monte!
Fale sobre o novo álbum, que pelo que vejo vai sair tão poderoso quantos os anteriores…
Dmitry Luna: Sim, o terceiro disco do Myrkgand está ficando impecável. Eu e o Øystein (Borknagar) estamos dando os retoques finais na produção, todo dia temos trabalhado muito nisto. Além disso tem muita gente massa participando do álbum. Músicos de bandas como Dimmu Borgir, Satyricon, Tsjuder, Borknagar, Abazagorath, Vulcano, Hecate, Headhunter D.C., Malefactor, e outros mais. Isso sem citar 2 participantes inusitados que inclui: o dublador brasileiro do Piccolo (Dragon Ball Z) e Aioria de Leão (Cavaleiros do Zodíaco), e o compositor da trilha sonora do jogo de corrida Top Gear (Super Nintendo). Eles dão um brilho extra ao trabalho, trazem essa sensação inovadora e peculiar. O álbum vem com umas surpresas… Eu explorei mitologias de culturas que não são tão lembradas e utilizadas em letras de bandas de Metal, e também inclui homenagens a ídolos que já não estão mais entre nós. Tem outras coisas também… Em breve o público vai poder conferir mais um capítulo envolvendo magia, demônios, bruxaria, filosofia, ocultismo e lendas! A capa do disco ainda vai ser divulgada, mas foi criada pelo meu grande irmão Nornagest, líder e frontman da banda Enthroned, da Bélgica. O título do disco também estou guardando segredo, por enquanto, assim como a lista com os nomes das músicas.
Atualmente você reside em Portugal, é isso? Como é para um brasileiro tocar um projeto em terras europeias, tem a mesma repercussão de estar aqui no Brasil?
Dmitry Luna: O Myrkgand sempre foi valorizado fora do Brasil, até mais que dentro. Basta ver quantas versões saíram dos meus discos na Europa. Mesmo quando eu ainda estava morando no Brasil os fãs Europeus e de outras partes do mundo já apoiavam, compravam da loja da banda. Sempre enviei pra fora. Eu acho que eu não consegui sentir ainda tanta diferença, muito por causa dessa era pandêmica que vivemos. Eu comecei a morar aqui no fim de 2019, pouco antes do início da pandemia, então ainda não tive como planejar muita coisa ou notar diferença. Ficamos muito tempo trancafiados. Agora tenho me movido e planejado botar a banda nos palcos com uma formação Européia… mas, um passo de cada vez. Ainda estou estudando a melhor maneira.
Dmitry Luna, agradeço por ter participado desta entrevista em nome de toda a redação da Lucifer Rising deixo com você as palavras finais meu amigo.
Dmitry Luna: Agradeço pelo espaço mais uma vez e parabenizo a Lucifer Rising pelo trabalho e divulgação do Metal extremo. Espero que o público do Brasil se torne cada vez mais consciente e apoiador das pratas da casa. O Brasil é uma fábrica de bandas incríveis, sempre foi… Só que estas mereciam muito mais valorização e reconhecimento. Tanto o público quanto os produtores e as gravadoras/selos desvalorizam muito o que é de dentro, só olham e pagam pau pra o que é de fora. Isso enfraquece demais a cena e é um desrespeito gigante com os artistas. Torço pra que isso vá mudando pra melhor com o tempo, que a cena se renove e que apareçam mais pessoas que façam a diferença. Divulguem as bandas Brasileiras, torçam por elas, comprem material delas em suas lojas oficiais e nas lojas dos selos. Melhorem essa atitude! E pra quem já faz tudo isso e sempre fez, meu total respeito. Um grande abraço a todos.
Confiram o site oficial da banda www.myrkgand.com/shop