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O Patria é um projeto formado 2008 fazendo um Black Metal com fortes influência escandinavas tendo se destacando ao longo dos anos com excelentes trabalhos, ano passado gravaram o single “Consecration” e nesse ano prometem após 5 anos de seu último álbum de estúdio… Vamos para uma conversa com Mantus.
A formação do Patria se resume apenas a você e Tsword ou os demais integrantes que tocam ao vivo também fazem parte do line-up?
Mantus – Inicialmente sim, pois éramos apenas eu e Tsword que gravávamos os discos sozinhos. Eu era responsável pela parte instrumental e ele pelos vocais. Depois de um tempo passamos a trabalhar em conjunto com a banda que tínhamos montado para os shows. Acho que isso começou a partir do “Individualism”, de 2014. Mas não é regra e isso varia muito. Por exemplo, no nosso último disco “Magna Adversia” a bateria foi gravada pelo Asgeir Mickelson, que era baterista do Borknagar. E no novo álbum, por uma questão de “logística” e praticidade, as baterias foram gravadas por Leonardo Pagani, meu parceiro de longa data no Mysteriis, que é um batera incrível e produziu o disco. Então tornou tudo mais fácil pra gente.

O Patria foi formado em 2008 e no mesmo ano gravaram a demo “Hills of Mist”. Era apenas um projeto ou vocês tinha intenção de realmente ir longe com a banda?
Mantus – Naquela época eu tinha saído do Rio e acabado de me mudar pra Serra Gaúcha. Eu já tinha a ideia do Patria no papel, mas eu ainda não tinha o nome Patria e nem músicas finalizadas. Isso foi tudo criado já aqui na Serra Gaúcha. Inicialmente quem iria fazer os vocais era o Fog do Songe d’Enfer. Ele já morava no Canadá e estávamos falando bastante por e-mail e telefone, tentando alinhar tudo a distância. Mas em 2008 as coisas ainda não eram tão práticas em relação a tecnologia como é hoje, então acabou ficando difícil pra gente concretizar essa parceria. E também para alinhar nossas agendas, pois nós estávamos ambos ocupados. Até que eu resolvi gravar a parte instrumental da Demo e logo na sequência o disco “Hymns of Victory and Death” inteiro, sem me prender aos vocais. Em alguns meses aqui na Serra eu conheci Tsword, ficamos amigos e ele acabou se tornando o vocalista. No começo era apenas um projeto sem muita pretensão, depois a coisa foi ficando mais séria e assídua, digamos assim, mas ainda considero o Patria uma banda sem muito compromisso, o que eu acho muito bom.
O ultimo álbum gravado em 2017, “Magna Adversia”, é um trabalho bem diferenciado dos anteriores, com uma sonoridade extrema, passagens mais lentas e cadenciadas, deixando todo o álbum com uma atmosfera única e invejável, como foi o processo de trabalho dessa obra, que pra mim foi um dos melhores álbuns de 2017?
Mantus – Ah legal. Que bom que tu gostou e achou um dos melhores discos de 2017. Obrigado! Esse é um disco de fato muito diferente de tudo que já havíamos feito. Ele não é um disco puramente Black Metal, pra ser honesto. Ele tem um toque de experimentalismo e chega até flertar algumas vezes com o Doom/Death Metal e o Progressivo, mesmo que discretamente. Mas eu considero ele um disco de difícil absorção (risos). Não é um disco fácil e não é todo mundo que consegue captar a essência dele logo de cara. É um disco que tem uma produção mais rebuscada tambem, se comparado ao que estávamos fazendo nos discos anteriores, que eram mais toscos. Tudo isso tornou ele um disco bem diferente. O processo de criação dele foi inicialmente todo feito em ensaios com a banda toda junta. Eu chegava com algumas ideias de riffs e montávamos apenas o esqueleto da música nos ensaios. Depois já com essa base pronta, eu desenvolvia melhor em casa, no meu home studio, adicionando outras camadas de guitarra e sintetizadores, até alcançar o ponto ideal. O Patria sempre usou sintetizadores desde o primeiro disco, apesar de serem muito discretos e quase imperceptíveis, apenas fazendo uma “cama” pra música, mas no “Magna Adversia” acabamos deixando eles mais aparentes, o que também colaborou pra ser um disco diferente e mais complexo.
Ano passado foi gravado o single “Consecration”, como estão os trabalhos após 4 anos em silêncio?
Mantus – Está tudo ótimo. Apesar de não termos lançado nada em 4 anos, a banda estava na ativa trabalhando e tocando. Nosso último show antes da pandemia seria em Porto Alegre com o Abbath, em Dezembro de 2019, mas infelizmente ele estava mal, fez besteira e acabaram cancelado todo o resto da Tour. Na sequência disso veio a pandemia e ficamos esse tempo parados. Até fizemos alguns ensaios durante a pandemia, quando aliviaram as restrições, para dar aquela desenferrujada, mas o foco acabou sendo o disco novo mesmo. Esse single “Consecration”, que lançamos no ano passado, é a versão Demo de uma das músicas do novo álbum, que ainda está sendo finalizado. Decidimos soltar esse Single, mesmo que numa versão ainda Demo, pra mostrar para as pessoas que o Patria estava na ativa e o que estava por vir. O disco está em processo de mixagem e o lançamento será através do selo Dawnrazor Records na versão física em CD e a distribuição Digital será feita pela Blood Blast, da alemã Nuclear Blast. A data de lançamento será no dia 15 de Julho, 5 anos depois do lançamento do “Magna Adversia”. Acho que foi o maior período em que o Patria ficou sem lançar um disco.

Em 2015 a banda tocou no “Inferno Festival” em Oslo, na Noruega. Como foi tocar no berço do Black Metal com grandes bandas do metal extremo mundial?
Mantus – A experiência de tocar no Inferno Festival foi sensacional. O festival é maravilhoso e muito bem organizado. É bonito de ver aquele profissionalismo, tudo parece fácil e realmente funciona. É algo que infelizmente não temos aqui no Brasil ainda. Fomos super bem recebidos pelo público, adoramos ter tocado lá e tivemos a oportunidade de estar em contato com todas aquelas bandas durante os 4 dias de festival, o que foi muito legal. Uma experiência a parte que também aconteceu lá, foi fazermos um ensaio um dia antes do show, no estúdio privado do Dimmu Borgir. Sou bastante amigo do Shagrath e do Silenoz e eles sabendo que nós queríamos fazer um ensaio, ofereceram da gente usar o estúdio deles. É um estúdio fechado, usado somente por eles e pelo Chrome Division. Então nos sentimos privilegiados. O Shagrath é sempre super receptivo, levou a gente pra lá, fez café, regulou tudo, brincou com as luzes e fumaça, usamos todo o equipamento deles, que é animal, diga-se de passagem (risos). Enfim… O estúdio é monstro! Isso foi algo muito foda e que significou muito pra gente também. No dia seguinte eles foram assistir a gente no show! Do caralho. São pessoas super simples e nota mil!

Qual a diferença do público europeu para o público brasileiro em um evento?
Mantus – O público europeu normalmente parece ser um pouco mais “frio”, mais quieto, prestam mais atenção talvez, agitam menos. Mas a receptividade que tivemos lá foi basicamente o contrário disso e incrivelmente calorosa. Ficamos surpresos! Foi foda!
Como esta sendo a repercução do Patria na Europa, após o “Inferno Festival”?
Mantus – Ter tocado no Inferno Festival abriu muitas portas pra gente na Europa e sem dúvida acabamos conquistando mais fãs, fomos ficando mais conhecidos por lá, saíram ótimas resenhas do show e demos muitas entrevistas. Na época o nosso selo era Norueguês, então isso também colaborou bastante. Inclusive foi por isso que tivemos a oportunidade de tocar no festival. Somos muito gratos ao pessoal da Indie Recordings por isso.

Com um clima musical bem voltado para o cenário extremo europeu, quais seriam as influências do Patria?
Mantus – Eu não saberia te dizer influências tão diretas, mas sem dúvida o nosso som é calcado no Black Metal nórdico dos anos 90. É claro que existem inspirações vindas de outras cenas do mundo também, inclusive Brasil, mas resumidamente eu diria que o nosso som está nos moldes do Black Metal norueguês e sueco. Eu particularmente sou muito fã de bandas como o Bathory, Mayhem, Darkthrone, Dissection, Burzum, Immortal, Satyricon, Ulver, Borknagar, Dimmu Borgir, Enslaved… Então eu bebo muito dessa fonte, inevitavelmente.
Como analisa atualmente nosso cenário musical extremo, onde boa parte desse mesmo público se encontra dentro de um fanatismo político na cena. Existe espaço para o Black Metal ser conservador em sua opinião?

Mantus – Eu acho que são duas coisas completamente diferentes e não deveriam estar juntas. Eu sinceramente fico vendo essas bandas tomando partido, defendendo político de estimação, mesmo que indiretamente, e sinto vergonha alheia (risos). Parece ser parte de uma moda hoje, ter que se posicionar e estar sempre em posse de narrativas. Isso não é pra mim mesmo! Sou de uma época em que Metal é Metal! Ponto! Misturar música e política é algo que você nunca vai ver no Patria ou em bandas que eu faço parte, pode ter certeza. Respeito a posição de bandas que tomam essa atitude? Sim, claro! Defendo o direito de que cada pessoa deve ser livre para pensar e fazer o que acha melhor para sí. Mas não significa que eu não possa achar muito engraçado, certo? E cada um que arque com o seu BO depois também (risos). Na minha visão esse fanatismo que você cita vem igualmente dos dois extremos, direita e esquerda. Ambos os lados nessa condição mais radical me parece que são irracionais, fracos de argumento, não se sustentam e definitivamente não me convencem. Entra no campo passional da coisa e é aí que tudo vai pelos ares. O Black Metal não deveria ser misturado com isso, seja conservador ou liberal. É tudo farinha do mesmo saco pra mim e político é tudo um bando de merda! O povo é sempre quem sai prejudicado nessa história e infelizmente isso parece estar “encrostado” no DNA do Brasil, que é o país do “futuro” há 50 anos e não sai do chão. Por outro lado é um país tão rico que a roubalheira é sem fim e ainda assim não quebra, incrível. Mas sinceramente eu não vejo solução pra isso aqui!
O Sul do País sempre foi palco de excelentes bandas, poderia descrever o atual cenário sulista, segundo sua opinião?
Mantus – Com certeza! Ótimas bandas! Confesso que estou um pouco por fora de bandas novas daqui da região, mas das já confirmadas posso citar o Distraught, Rebaelliun, Leviaethan, o próprio Krisiun, que já é uma entidade internacional faz muitos anos. Fora do RS tem o Murder Rape e o Amen Corner, que são bandas que eu adoro e que foram super significativas para a história do Black Metal no Brasil. Enfim, o cenário de uma maneira geral é muito forte, com muitas bandas boas e dedicadas, mas eu acho que ainda peca se comparado com o centrão do Brasil (RJ, BH e especialmente SP), que é onde as coisas acontecem mais corriqueiramente. Talvez até por estarmos mais afastados geograficamente, a logística fica mais difícil e bem mais cara, não colaborando e dando menos chances pra gente. Também temos poucas casas de qualidade, com uma boa infraestrutura pra comportar bandas de pequeno e médio porte. Ou é muito ruim e pequeno, ou é muito bom e grande demais. Acho que isso sempre atrapalha um pouco.
O que podemos esperar do Patria para o futuro, quais as novidades para o novo álbum?
Mantus – O novo álbum está pronto e estamos iniciando o trabalho de divulgação do mesmo muito em breve. Estamos ansiosos por isso! Nesse disco novo pisamos no freio no sentido evolutivo, se comparado ao que foi o “Magna Adversia”. Estamos fazendo uma espécie de resgate ao que era o som do Patria nos primeiros discos, baseado naquela sonoridade do Black Metal mais primitivo dos anos 90, sem muito experimentalismo, mas ainda assim com boas melodias, sintetizadores e pianos mais aparentes e uma boa produção, suja e agressiva como deve ser uma produção de Black Metal, mas aportando uma grande qualidade. A gente está gostando demais do resultado.
Agradeço muito meu amigo por essa entrevista, deixo com você as palavras finais…
Mantus – Valeu! Eu que agradeço! Muito obrigado pelo interesse no trabalho e história do Patria. Fiquem ligados que logo teremos muitas novidades sobre o disco novo. Teremos algumas participações muito especiais que iremos anunciar em breve. Também iremos revelar título do disco, das faixas, arte de capa, foto nova da banda e tudo mais.
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