Áudio para deficientes visuais
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O Ratos de Porão é uma banda que dispensa apresentações.
Completando 40 de Hardcore/ Punk , um marco histórico em se tratando de uma banda brasileira, uma vez que não temos nenhum incentivo a cultura e o som pesado e contestador é visto com preconceito pela sociedade.
“Necropolítica” é o décimo primeiro disco de inéditas da banda, e preciso falar de cara, um dos melhores da discografia da banda .
Abrindo os trabalhos com “Alerta Antifascista” uma paulada na cara dos bozominios e simpatizantes em geral. A sonoridade remete imediatamente ao último disco de estúdio da banda ” Século Sinistro” lançado em 2014. O refrão “Alerta Antifa, Alerta Antifascista” soa poderoso e letal, e com certeza vai abrir a nova tour de divulgação desse novo trabalho. O solo simples e funcional do guitarrista e fundador Jão também merece destaque.
Sem nenhum segundo pro ouvinte respirar, “Aglomeração ” que teve seu lyric vídeo antecedendo o lançamento do disco, começa com a adrenalina no alto, e se um ponto que tinha me chamado a atenção na primeira música, o vocal do João Gordo parecia mais contido, aqui o cara solta os cachorros no espetacular refrão ” Jesus te protege na aglomeração – SEM MÁSCARA AAAA- ” outra tijolada que tem novamente uma letra feita baseada na triste realidade com o qual somos obrigados a conviver diariamente ; o negacionismo por parte de uma parcela da população que se acha no direito de ” não tomar vacina da china, pois o estado quer nos privar de nossa liberdade “. Os Riffs são puro HC com a assinatura clássica do velho e bom RDP de sempre
A música seguinte ” Passa Pano Pra Elite ” segue a linha mais cadenciada, porém sem perder a brutalidade em momento algum. A letra segue relatando os absurdos de um certo político que teve ” cocaína apreendida no avião” um fato que parece mentira de tão bizarro. Aliás, bizarra tá aparência do tal político, de tanto cheirar tá parecendo um baiacu, aquele peixe inchado.
Nesse som tem uma seção aonde o Gordo canta em inglês, lembrando a ” Mad Society” faixa presente no seu antológico álbum “Brasil ” de 1989 ..
Com um pequeno Riff e um dedilhado de baixo, começa a faixa título “Necropolítica ” uma faixa com uma sonoridade massacrante, o timbre do baixo do Juninho aqui está bem alto junto da bateria do Boka, catucando o ouvido, do jeito que eu gosto!! “Poder decidir quem deve viver, Poder decidir quem deve morrer” grita João Gordo fazendo referência ao auge da pandemia no Brasil e como o governo genocida (des)tratou o povo brasileiro. Faixa obrigatória nos próximos show da banda ( com o público apresentando seus comprovantes de vacinação, afinal a PANDEMIA NÃO ACABOU.
“Guilhotinado em Cristo” é um Crossover brutal, tal qual as palavras sua letra “Brasil paralelo a margem da lei, difícil de acreditar “.
“O Vira-Lata” trás um início que remete a surf music, no estilão do RDP é claro.
“G.D.O ” é um dos momentos mais velozes, dando o seu recado em 02:08, seu título faz referência ao ” Gabinete do Ódio” e se você não sabe do que se trata, talvez tenha que assistir o jornal e ver o que acontece no seu país.
“Bostanágua” é a música mais ” lenta” do disco na minha opinião, e meio lado B, aqui os vocais do Gordo lembram umas linhas vocais que ele fez em ” Próximo Alvo” .
A capa foi inspirada no essencial “ Sabbath Bloody Sabbath “, numa ilustração feita por Rafael Gabrio que eu defino em uma palavra: SOBERBA e acredito que a inspiração tenha sido a música seguinte, penúltima faixa.
Enfim chegamos a um momento que acabou sendo muito pesado pra mim, pois a letra de “Entubado ” que faz referência a este falta de oxigênio e medicamentos em Manaus, escancara a realidade cruel que o povo e os profissionais da saúde tiveram com que lidar, confesso que fiquei muito abalado, pois foram inúmeras noite que este redator não conseguiu dormir após presenciar no seu plantão , familias se despedindo de seus entes queridos antes de serem entubado. Aqui o Ratos, em especial o Gordo arranca a casca da ferida a dentadas, algo necessário para que isso não se repita jamais.
Após uma porrada tão forte dessas, temos o encerramento com chave de ouro com “Neonazi Gratiluz ” faixa auto explicativa em sua letra, e com sonoridade que remete à fase do “Onisciente Coletivo (2002) “
Produzido no estúdio Family Mob ( que já é uma referência no som pesado ) com uma sonoridade pesada e com a cara do RDP , o disco traz uma certa urgência, um pique meio Reign In Blood. Na minha visão talvez se deva ao fato de ter sido composto sem muitos ensaios, na raça. O que fica claro aqui é que esse é um dos melhores álbuns do Ratos e se tornou um dos meus grandes favoritos desse ano.
Só tenho a agradecer ao RDP por esse álbum, nesse momento, pois é exatamente disso que estamos precisando.
E um salve ao João Gordo, que resumiu o Brasil velho de Guerra, em uma linha ” o Brasil fudeu, mais tá tudo bem “
Deu no que deu, e o resultado está aí.
Versão Vinil AMM Records em Julho