O Realidade Encoberta é uma banda que se confunde com a minha própria história dentro do metal. Voltando ao início dos anos 90, na cidade de Recife, eles foram uma grande referência para a mim em termos de underground. A velha e clássica camiseta da caveira era item obrigatório no meu dia a dia e os shows que pude presenciar da banda eram sempre muito bons, ainda com o saudoso Nado nos vocais. Em 2018 eu tenho a chance de ouvir mais uma vez os caras, tanto tempo depois e confesso que não sabia como a música deles estava. Foi uma redescoberta do som mais crossover com uma pegada que traz muito do hc também. “Não Vivamos Mais Como Escravos” é um álbum que se posiciona. Não é um material em cima do muro de forma alguma e só isso já merece aplausos. A capa do álbum traz um retrato da nossa atual situação política e mostra de forma nua e crua o que o indivíduo se torna quando abdica da criticidade e se torna um escravo do sistema. Musicalmente falando, como disse antes, o som traz uma pegada thrash, crossover em muitos momentos e com aquela atitude punk que muitas bandas perderam. Percebi uma forte influência do velho Ratos de Porão, da fase “Brasil” e “Anarkophobia”, mas ainda mantendo algo próprio. As músicas que realmente me chamaram a atenção foi “TV Alienação”, com uma letra ácida e uma energia muito grande. A porradaria de “Pague Proprina” é uma homenagem ao thrash/grind que o Nuclear Assault fazia aqui e ali nos seus álbuns. Muito foda essa música. “Cleptocracia” traz o climão crossover de forma escrachada. “Não Mais Vivamos como Escravos” é pura adrenalina e fechando o álbum vem a porrada de “Não Quero Te Ouvir”. Fico muito feliz em saber que o velho Realidade Encoberta continua na estrada e fazendo uma música nos cascos como a que eles apresentaram nesse álbum. Pude voltar quase 30 anos e vivenciar a trilha sonora que embalava a cena recifense de outros tempos. Esse é um trabalho independente e merece realmente todo o apoio.