Uma das bandas pioneiras do Grind Core no Brasil, o STOMACHALCORROSION retorna agora as páginas virtuais da LUCIFER RISING para falar do seu último trabalho, como também, expor sua ideias sobre o estilo, o momento político atual do Brasil e toda sua história nesses quase 30 anos de estrada. Confira o que Charlie Curcio tem para nos dizer:
Em 2018 vocês lançaram seu último trabalho, auto intitulado. Como está a divulgação deste álbum, tanto no Brasil como no exterior? Conte-nos um pouco sobre este lançamento.
Charlie Curcio – Sim, depois de alguns anos tentando fazer algo consistente com a banda, consegui reformular a formação e chegar a gravar o novo CD. Este era um projeto que estava arquivado em minha mente desde 2006 ou 2007. Sobre a divulgação do CD “StomachalCorrosion” (escreve-se junto mesmo), tenho feito o que posso para difundí-lo ao máximo, com panfletos, divulgações, comentários e entrevistas nos mais variados veículos do meio underground, além de mandar muitos CDs para lojas e amigos confiáveis venderem em forma de consignação! Tem sido satisfatório.

E como foi os shows para divulgação deste trabalho ? Alguma previsão de uma turnê fora do país?
Charlie Curcio – Fizemos alguns shows aqui em BH. Mas temos muitos compromissos pessoais com famílias, trabalhos e estudos. Além de que nossos horários e datas são distintos e isso atrapalha demais na hora de fechar algo fora de BH ou uma turnê em si. Já tentei trabalhar em uma mine turnê pelo Nordeste, mas a maneira como alguns “organizadores” de eventos tem oferecido seus trabalhos não ajudam em nada, afinal, para eles parece que impera o “tocar para divulgar”. Tô fora de trabalhar com aventureiros interessados apenas em sugar as bandas. Sempre cogitamos umas viagens à Europa.
Como é fazer Grindcore no Brasil? A cena é forte e unida?
Charlie Curcio – Sinceramente nunca pensei efetivamente em cena, sempre fiz minhas coisas por mim e por achar legal fazer. Nunca pensei em dificuldades e facilidades em fazer nosso som e demais atividades que sempre desenvolvi no meio. Se for pensar em cena, nos demais e etc, o desânimo e frustração acaba nos abatendo, pois ninguém pensa e age igual a ninguém, e nem deve. Corro atrás (e muito) dos meus objetivos e aprendi a desviar e evitar os derrotados, os futriqueiros e geradores de boicotes idiotas, os donos deste ou aquele estilo, os chamados “caga-regras”…(risos)

Originalmente o STOMACHALCORROSION teve sua origem na cidade de João Pessoa, na Paraíba, em 1991. Cidade também da lendária banda ABBADON! Você acompanha o movimento paraibano? O que destaca?
Charlie Curcio – Na verdade a banda surgiu na cidade de Campina Grande, também na Paraíba. O grande ABBADON também era de Campina Grande e fiz a única entrevista com a banda concedeu em sua breve trajetória para um fanzine que editei no começo dos anos 90, o CRAZY INVASION ZINE. Um pequeno selo do Chile lançou a única gravação que o ABBADON realizou de um ensaio em uma fita cassete e o encarte é justamente essa entrevista que o Nightmare (Arilson Paganus) me concedeu. Eu mantenho contato com vários conhecidos da Paraíba até hoje, e vez por outra me encontro com alguns aqui em BH ou até indo lá, como em 2015 quando a banda NECRÓPOLES de Campina Grande me levou para toca um som do STOMACHALCORROSION em um show ocorrido em janeiro daquele ano. A amizade e admiração continuam.
Falando ainda em tempos remotos, tínhamos muitas bandas fazendo o chamado Deathcore. Hoje dificilmente ouço este termo. Será que foi absorvido pelo Grindcore e inserido no estilo? O que acha?
Charlie Curcio – Muitas coisas que ocorreu no passado não passava de viagens de alguns caras, que brincavam de querer ser mais radicais e obscuros do cenário de então. Cada semana surgia uma termo utilizado muitas vezes por uma banda apenas, e quem os admirava, simplesmente copiava. Acredito que o Deathcore acabou sendo representado pelo Brutal Death Metal, que em alguns casos beira ao Grind. Talvez, não sei ao certo, com a expansão da utilização de vocais guturais, alguns estilos foram sendo unificados a outros e muitos foram vendo que na realidade, tudo não passava de Metal, Grind ou Hardcore…algo assim.

Vivemos tempos estranhos. Nosso país governado por ideias autoritárias e até religiosas. Prato cheio para uma banda de Grindcore vomitar seu repúdio, não? Fale-nos um pouco das composições do STOMACHALCORROSION.
Charlie Curcio – As letras da banda sempre foram críticas. Gosto de comentar sobre muitas coisas que encaro dentro do próprio cenário underground. O STOMACHALCORROSION sempre foi uma banda com caminhos próprios e ligação muito forte com conceitos anarquistas. Gosto de difundir o idioma Esperanto em nosso trabalho, acredito em sua neutralidade social. E sobre os políticos…é como diz nosso som ‘You Fool’ : “se você acredita neles, você é um tolo.”
Qual sua visão sobre o futuro da humanidade? Precisaremos de apenas dois séculos para extinção?
Charlie Curcio – Sinceramente acho que tudo não passa de um ciclo, pois coisas, pensamentos, ações e efeitos vem e vão. No começo dos anos 80 tivemos os pensamentos apocalípticos, evolvendo a Guerra Fria, armagedom nuclear, etc. Se a humanidade durará mais dois séculos, menos ou mais, só o tempo dirá, a letra de nosso novo som é só um pequeno alerta reflexivo.
Apesar de uma pausa de uns 6 anos, a banda vai chegando em breve aos seus 30 anos de estrada. Nos conte a pior situação que já passaram, como também, o momento em que pensaram; “ valeu a pena”!
Charlie Curcio – Tem hora que me pergunto por que entrei nessa… (risos). Mas, sempre que rolam incompreensões, desinteresses, mudanças na formação e estes obstáculos, são momentos complicados, porque sempre quero fazer o melhor dentro das condições que tenho. Sobre o melhor momento, com certeza foi assinar o contrato para o CD de 2018 com a Cogumelo Records. Ali pensei que tudo tem valido a pena.

O que falta acontecer para banda que ainda não chegou o momento?
Charlie Curcio – Gostaria muito de tocar em outros países, como na Europa, dividir palcos com algumas bandas que sempre me foram influência e espalhar a corrosão um pouco mais. Penso que o novo CD por uma gravadora como a Cogumelo Rec. me dá uma sensação de ter galgado alguns degraus em termo de expansão.
Você lançou um livro autobiográfico. Inicialmente nos diga, por que o título “Ainda.. Uma vida em um meio” ?
Charlie Curcio – Sim, acabei lançando esta autobiografia. Acredito que serve um pouco como um pequeno resgate dos vários cenários das cidades por onde morei. E como eram as coisas na época. Muitos caras tem se identificado com o texto do livro. O nome remete à minha vida dedicada às várias tarefas que desenvolvi no meio underground, como fanzines, bandas, shows, etc.
Fale nos um pouco mais sobre o livro. O que iremos encontrar em seu conteúdo? Ainda disponível ?
Charlie Curcio – Procurei fazer resumos sobre minhas passagens nas cidades por onde morei contando como foi meus primeiros contatos com o Rock num geral, o acúmulo das bandas que fui conhecendo, as manias, as furadas e as atividades como fomento do underground em cada cidade. Os camaradas das bandas e certidões. Sim, ainda tenho umas peças disponíveis, mas tá acabando e não devo fazer segunda edição. E tem os pontos de vendas por várias cidades.

E quais as perspectivas para este ano de 2021 com o StomachalCorrosion?
Charlie Curcio – Em 2021 o StomachalCorrosion completa 30 anos de uma existência conturbada e sem perspectiva nenhuma, apenas fazendo o que parece necessário! Temos planos de lançar finalmente o CD tributo ao SC, um split com a banda OMAGO, do Chile e, se tudo der certo, um livro biográfico.
Deixe um recado para os iniciantes, que estão conhecendo essa rápido e agressivo mundo do Grindcore.
Charlie Curcio – O Grind é um som e meio em que acredito reinar uma maior liberdade tanto sonora, de criação como lírica. Claro que sempre surgem uns e outros querendo se apossar deste também, mas, como todos os casos, estes caras logo somem do meio e vão infernizar outros por aí afora. Agradeço por voltar à LUCIFER RISING, revista que acompanho desde seu início e tenho grande orgulho de ser o STOMACHALCORROSION o primeiro grupo Grind do Brasil a ter sido entrevistado pela revista há alguns anos. Abraço Tullula, Giovan e toda equipe da LUCIFER RISING, MUTILATION REC. e METROPOLE. A Corrosão continua!
Confiram o clip da música ‘Mental Despain’: