Áudio para deficientes visuais
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Com sua temática misteriosa e cheia assuntos relacionado ao cosmos, o The Spirit teve uma ascensão meteórica e seu trabalho chegou aos ouvidos dos amantes do Death Metal de todo o mundo. Agora em 2022 foi lançado o terceiro álbum “Of Clarity and Galactic Structures” que mostrou uma pequena mudança em sua sonoridade. Daí achei interessante trazer aos nossos leitores uma conversa muito clara com o MT ( líder da banda). Boa Leitura!
O álbum anterior ‘Cosmic Terror’ saiu em fevereiro de 2020. O que aconteceu então? Você fez alguns shows?
MT – Começamos alguns shows no dia 7 de fevereiro e toda a merda aconteceu na primeira ou segunda semana de março. Poderíamos tocar por um mês. Fizemos uma pequena turnê de lançamento. Podíamos fazer seis shows e cinco deles estavam esgotados. Para muitas pessoas foi como os últimos shows que assistiram antes de tudo ser encerrado. Foi fantástico. A resposta foi ótima, locais lotados. Se alguém tivesse me contado três anos antes, quando ninguém conhecia a banda, não havia nada lá fora. Lançamos o primeiro álbum por conta própria e três anos depois tocamos em shows com 300 pessoas, shows esgotados. Foi ótimo que você recebesse algo de volta por todo o trabalho duro que colocou na banda. Então estávamos super empolgados para conquistar o mundo, mas infelizmente, algumas semanas depois, o inferno começou na Europa e no resto do mundo.
No novo álbum eu acho que você libera suas influências progressivas ao máximo, você concorda?
MT – Sim, aqui e ali, já tínhamos algo assim em ‘Cosmic Terror’, mas na verdade quando comecei a compor para ‘Cosmic Terror’, o álbum anterior, eu queria ir mais nessa direção, mas não tinha as bolas da vez naquela época. Eu não estava confiante o suficiente para fazer isso e desta vez eu disse: ‘foda-se, eu faço o que eu quero e vamos fazer algo novo’. Deixe-me desafiar a mim mesmo e ver se podemos adicionar isso ao nosso som e ficou – pelo menos para nós – muito, muito interessante. Nós nos divertimos muito quando conheci Manuel (Steitz – bateria) na sala de ensaio e começamos a trabalhar na bateria, adicionando elementos especiais que realmente beneficiou nosso som em geral. Foi bastante desafiador no começo, mas você sabe que é sempre assim até na vida. Você precisa ter alguns desafios para sair da sua zona de conforto.
Devo dizer que essas matizes progressivas combinam muito bem com a atmosfera geral do The Spirit. Eu não esperava isso…
MT – É sempre a mesma coisa: quando você adiciona novos elementos, pode dar totalmente errado. Existem muitas bandas com uma carreira lucrativa, mas quando eles fizeram mudanças, foram totalmente para trás, você sabe e depois disso eles mudaram de novo. Mas o desafio era agregar esses novos elementos, mas ainda assim fazer boa música. O que eu sempre quero em nossa música, é que as músicas fluam. Sempre acontece muito nas músicas, com certeza nas longas, com muitos riffs, mas nenhum momento ruim. Os riffs estão cada vez melhores. Esse é sempre o desafio.
Em nossa entrevista anterior, você já disse que costumava ouvir metal progressivo e rock progressivo. Então é um desenvolvimento lógico, eu acho…
MT – (surpreso!) Eu mencionei isso naquela época na entrevista? Sim claro. Não gosto tanto de metal progressivo, mas de rock progressivo dos anos setenta. Os anos setenta são a idade de ouro da música progressiva. Todas as coisas boas: Rush, Yes, Camel, Pink Floyd…, todas essas grandes bandas. E há tanta música que saiu naquela época que eu ainda estou descobrindo muitas novas bandas todo mês. Quando estou ouvindo-os, eu me pergunto: o que diabos estava acontecendo que eu nunca ouvi falar dessa banda? Como eu poderia viver 37 anos neste planeta sem conhecer essa grande banda? Ainda é muito emocionante encontrar esses diamantes da música, mesmo quando você pensa que já conhece a maioria deles.
Quais foram os exemplos recentes de bandas que você descobriu?
MT – (pensa) Provavelmente a banda que eu mais estava ouvindo nas últimas duas semanas é uma banda chamada GTR. É prog com uma abordagem rock, mas é mais como um super grupo, formado em 1984 e que acabou de lançar um álbum. Era Steve Howe, o guitarrista do Yes e Asia, Steve Hackett, o ex-guitarrista do Genesis. Eles lançaram este álbum e isso me surpreendeu totalmente. Acabei de encontrá-lo por acidente e estive ouvindo nas últimas duas semanas. Eu amo isso. Há uma música, a melhor que ouvi em anos e se chama ‘Imagining’. Tem tudo que eu amo. É cativante, os vocais são super bons… dê uma olhada talvez, se você tiver tempo mais tarde. Outra surpresa positiva é Saga, do Canadá. Eu nunca os conheci profundamente, mas agora estou nele. Banda incrível. Eu quero descobrir novas bandas até o dia que eu morrer. Os anos setenta e oitenta, não quero ser muito nostálgico sobre isso, mas o nível de musicalidade que eles faziam naquela época era algo completamente diferente do que hoje em dia. Mesmo bandas que nunca fizeram sucesso, elas tinham muito mais a oferecer do que a maioria das bandas hoje em dia. As pessoas dizem muitas coisas negativas sobre a internet para o mundo da música, mas uma das coisas positivas como amante de música e consumidor de música é que é tão fácil conferir todas essas grandes bandas de antigamente, que de outra forma seriam provavelmente perdidos para sempre, mas agora com a internet é tão fácil descobrir essas preciosidades de antigamente.
Eu sei que você não gosta de falar sobre as letras, mas há uma frase específica sobre a qual eu gostaria de ter sua opinião, se possível. “A luta diária deve ser vista em um contexto maior, o quadro que geralmente leva à clareza’ e então você chegou ao título do álbum ‘Of Clarity And Galactic Structures’. Você pode falar sobre isso?
MT – Sim claro. Não tenho problemas para falar sobre as letras, só não gosto de explicar as letras. Nos dias de hoje faz uma grande diferença. Hoje em dia, quando escrevo letras, sempre tento manter as letras abertas, para que todos possam acessá-las. Existem duplos significados, metáforas e outras coisas e eu não quero ser rigoroso ao escrever letras. Então cada um pode tirar suas próprias conclusões, cada um pode ver um pouco diferente, eu deixo aberto para todos. O que você acabou de mencionar foi retirado da folha de imprensa. Além disso, este título tem dois significados diferentes para mim. Gosto de simplificar, é como no geral, o que não fazemos e o que devemos fazer com mais frequência, que demos um grande passo para trás e que tenhamos um olhar sobre a nossa vida, sobre a humanidade, sobre várias coisas, mas de um ângulo diferente. Todos nós vivemos em nossas pequenas bolhas e perdemos a visão do que está acontecendo além disso. Se você der um grande passo, pode causar uma grande mudança na percepção. E então talvez dê dez mil passos para trás e dê uma olhada, então você terá outro ângulo novamente e verá as coisas de maneira muito diferente.
Essa visão também me lembra um pouco de uma frase que se pode dizer a alguém que está reclamando da vida cotidiana: olhe de uma perspectiva diferente: quão ruins são seus problemas, vistos de uma visão cósmica? De maneira universal?
MT – Exatamente! Essa é a coisa! Não sei, do que as pessoas estão reclamando? (pensa) Acho que aí é igual aqui, os preços da gasolina estão explodindo, estão super altos. As pessoas reclamam, mas o que você faria com dez ou vinte euros extras por mês? Isso não significa nada. Ou quando alguém fica doente – é sempre uma coisa terrível, depende do que você tem – mas se você der dez milhões de passos para trás e ver este pequeno planeta chamado terra onde estamos, somos um pontinho. Pegue a última música de ‘Of Clarity And Galactic Structures’, chamada ‘Laniakea’, que é o superaglomerado onde nossa galáxia, a Via Láctea, é apenas um pequeno ponto, uma pequena parte dela. Não somos nada! Nossas lutas diárias não são nada comparadas ao que está lá fora. Vazio completo.
E o universo ainda está se expandindo enquanto falamos…
MT – Está ficando maior e descobrimos a cada dia, a cada ano descobrimos muito mais e essa é a coisa mais emocionante sobre esse tópico. Na verdade, não sabemos muito. Eu vi ontem ou dois dias atrás que o telescópio James Webb fez as primeiras imagens aproximadas do universo. Quando este telescópio estiver enviando fotos, acho que nos próximos dois anos teremos que reescrever muitos livros de ciência novamente, porque isso mudará muito sobre o que sabemos sobre o universo. É isso que eu espero, não sei se vai acontecer. Há mais na vida do que ir trabalhar, comprar coisas e consumir coisas.
Pela primeira vez você usou sintetizadores e é muito óbvio na última faixa. Me lembrou Tangerine Dream…
MT – Sim, sou um grande fã de Klaus Schulze, Tangerine Dream e artistas assim. Eu tinha essa imagem na minha cabeça sobre a música e tentei transformá-la em música e em sons. Achei que poderia funcionar se tivéssemos um sintetizador nesta faixa, mas o desafio é… não sabíamos quem usaria o sintetizador no estúdio, porque nossa regra número um é tudo o que fazemos no estúdio, faremos ao vivo também. Então não fazia sentido usar um sintetizador no estúdio e depois ao vivo ninguém poder tocar. Nós não usamos backing tracks ou qualquer outra coisa, isso é absolutamente proibido, nós nunca faremos isso. Tudo o que fazemos no palco, fazemos ao vivo, porque hoje em dia é bem normal, infelizmente, que muitas bandas de metal estejam usando backing tracks, sabe, com instrumentos, sintetizadores, até vocais. Lembro que antigamente era como uma sentença de morte para as bandas quando usavam playback e hoje em dia é apenas ‘normal’, infelizmente. Para nós é importante para tudo o que fazemos, fazemos ao vivo. Quando tive a ideia de usar um sintetizador para essa faixa, tive que lidar com isso de uma forma que pudéssemos fazer no palco também. Então eu saí em um sequenciador, Tangerine Dream está usando muito. Eu posso trabalhar neste e combiná-lo com guitarra. Eu posso me afastar do sintetizador e tocar as partes da guitarra e o sequenciador apenas entra nesse modo repetitivo em segundo plano.
Para o processo de gravação você trabalha mais ou menos com as mesmas pessoas de antes, mas o que era verdade com o boato de que Victor Santura iria tocar no The Spirit?
MT – Bem, onde você ouviu isso?
Eh… acabei de ler em uma revista…
MT – Ah ok. Era como… quando foi isso? Eu acho que foi como depois de ‘Cosmic Terror’? Estávamos procurando um guitarrista e eu estava no estúdio e estávamos conversando sobre isso, que não encontramos um novo guitarrista. E outro dia eu estava perguntando ao Victor: ‘e você?’ e ele disse: ei cara, ontem à noite eu estava pensando nisso. Bem, estávamos conversando sobre isso, mas o negócio era que naquela época não era possível, porque Victor é um cara super ocupado. Ele tem um estúdio, ele tem umas três outras bandas, naquela época sua agenda estava cheia e ele não podia ir conosco no palco, mas ele ainda é uma parte importante da banda quando entramos no estúdio para gravar tudo lá exceto a bateria e ele é um bom amigo. Agora temos um novo guitarrista: um jovem que se juntou a nós no ano passado e está tudo ótimo. Espero que ele possa tocar ao vivo em breve. Então Victor e eu tivemos essa conversa, para que ele pudesse entrar na banda. Não é um segredo.
E você já tem um novo baixista?
MT – Sim, nós temos um baixista, então felizmente e finalmente poderemos entrar no palco como um quarteto, porque nos últimos shows que fizemos nos últimos três anos, havia apenas três pessoas no palco sem baixo. Agora temos um novo baixista se juntando a nós para os shows ao vivo. Estou bastante confiante, com o line-up ao vivo que temos agora, que seremos capazes de fazer os melhores shows que já fizemos.
Espero que aconteça logo…
MT – Sim, estou bastante confiante de que podemos fazer nosso primeiro show em abril. Acabamos de ser anunciados para um festival na Irlanda. Eles estão um pouco à frente da Alemanha, quase todas as restrições foram para lá, então o show definitivamente vai acontecer e acho que será mais fácil no futuro agendar mais shows e que voltaremos a “algum tipo de normalidade” e talvez temos o pior atrás de nós. Esperemos que os próximos anos sejam um pouco mais fáceis no mundo da música do que os anos passados. Quero dizer, não apenas o negócio da música, mas em geral. Para todos nós. Espero que shows e festivais possam acontecer. Nós definitivamente faremos mais shows do que nos últimos dois anos, com certeza.
Existem planos para videoclipes?
MT – Sim, a faixa-título está online há três ou quatro semanas e semana que vem temos um single saindo com um videoclipe, é para a música ‘Celestial Fire’.
Esse é um título muito legal. Com as coisas cósmicas eu às vezes tenho ele sentindo que é um pouco poético também…
MT – (entusiasmado!) Sim, claro! Você sabe, este é o single de sucesso do álbum. Esta música é acessível para as pessoas. Você ouve a música e ela se encaixa. Refrão cativante, curto, bem, na verdade é o single de sucesso e então decidimos gravar um videoclipe para ele.
Talvez algumas palavras sobre a obra de arte, porque você trabalhou junto com alguém que é bastante famoso: Eliran Kantor.
MT – Mais uma vez – depois do Valnoir – tivemos a honra de trabalhar com alguém que é um artista que escolhe as bandas com quem trabalha. Então, quando entrei em contato com Eliran – o mesmo que fiz com Valnoir na capa anterior – fiquei muito feliz quando a colaboração aconteceu, porque eles não funcionam com todos. Então, quando entrei em contato com Eliran, disse a ele que queria algo um pouco diferente do que ele costuma fazer. Acho que ele estava confortável com essa ideia e com o que fazemos. Ele gostou do álbum. Ele foi a primeira pessoa fora da banda que ouviu o álbum naquela época. Ele veio com esta obra de arte e estamos super felizes com isso. Nós não lhe demos muita informação, apenas em que direção. O principal para mim foi que era altamente reconhecível. Nada muito complicado e muitos detalhes. Assim como algo que você vê. Reconhecível e tem uma atmosfera bastante sinistra que combina com a música. Ele acertou em cheio. Eu nunca o conheci pessoalmente, mas desde o nosso primeiro contato, conversamos muitas vezes ao telefone e ele é um cara muito legal. Não é todo dia que você conhece alguém tão confiável e legal na cena do metal. Estou muito feliz que esta colaboração veio junto. Cara super legal!
Recentemente eu tive Agathadaimon na linha. Seu baterista vem daquela banda e vejo Martin como fotógrafo em seus shows, então acho que você os conhece muito bem?
MT – Conheço o Martin e na verdade dei uma entrevista há algumas semanas, porque ele está escrevendo para a Metal Hammer Germany. Fiz uma entrevista com ele e, claro, Manuel esteve no Agathodaimon para dois álbuns. Conheci Martin no Summer Breeze 2018. Cara legal e estou feliz que eles estão de volta, mas eles escolheram o pior momento (risos) porque queriam fazer seu show de retorno no festival alemão Rock Hard 2020 e estávamos na line-up também. Foi como o show de retorno para eles, o show de reencontro e claro que teve que ser cancelado. Agora eles têm um novo álbum, é claro, mas você sabe, para voltar a esses tempos, não é tão fácil. Então, claro, nós conhecemos os caras e um deles esteve por alguns anos na banda. Há tantas pessoas neste planeta, mas não tantos músicos nesse tipo de gênero musical e você sempre vê conexões. Esse cara tocou nessa banda e naquela banda… especialmente bateristas. Bons bateristas são tão difíceis de encontrar.
Bem, então eu termino com a esperança de ver o The Spirit ao vivo no palco um dia…
MT – No momento eu até tocaria em um estacionamento na autobahn. Eu só quero sair e tocar. Os dois shows que fizemos no final do ano passado me mostraram o quanto eu sentia falta disso. É tão incrível quanta energia você pode obter das pessoas e, claro, você pode devolver tanto e é como toda essa interação de energia fluindo. Vamos voltar em breve a tudo isso.